É possível provar matematicamente que o interesse de
todos nós por vezes não é compatível com o interesse individual de cada um.
Esta prova, matemática, foi suficiente para dar um Prémio Nobel em 1994 a um
matemático ( J. Nash ), ainda por cima numa fase da sua vida que sofria de
esquizofrenia, como se pôde ver ainda há pouco tempo num filme que andou a
rodar em várias salas e até na TV, ‘ Uma Mente Brilhante ‘. Este princípio, o
do Equilibrio, é ainda muito aplicado
hoje em dia na gestão moderna em que os
défices estão à frente do nariz, e o calote não se compadece com benesses
sociais para ganho de eleições ou interesses de lobbies.
O Equilibrio de Nash representa
uma situação em que, em um jogo envolvendo dois ou mais jogadores, nenhum jogador
tem a ganhar mudando sua estratégia unilateralmente. Para melhor compreender
esta definição, suponha que há um jogo com n participantes.
No decorrer deste jogo , cada um dos n participantes seleciona
sua estratégia ótima, ou seja, aquela que lhe traz o maior
benefício. Então, se cada jogador chegar à conclusão que ele não tem como
melhorar sua estratégia dadas as estratégias escolhidas pelos seus n-1 adversários
(estratégias dos adversários não podem ser alteradas), então as estratégias
escolhidas pelos participantes deste jogo definem um "equilíbrio de
Nash".
Só que rapidamente a
memória é curta e o que hoje parece lógico e aceitável, ontem seria
praticamente crime. Tudo isto no nosso País, teve e tem a meu ver a sua
expressão máxima nos gastos do País em Saúde desde há alguns anos a esta parte.
Claro que a Saúde é uma coisa muito vasta, e uma das grandes
áreas económicas do mundo. Em Portugal representa 16% da riqueza do País, um
dos maiores negócios a nível nacional ( 12% do PIB ). Por outro lado o controlo
deste negócio é cheio de ambiguidades, pois há vários interesses em causa ( das
farmácias, da industria, dos prestadores, das seguradoras, dos próprios
dirigentes de cada altura, dos políticos, e dos paus mandados dos políticos em
áreas que não estão de todo preparados). Tudo seria mais fácil se tudo
dependesse dum só organismo, o que hoje é praticamente impossível acontecer
nesta nossa economia de mercado ou seja se o Estado fosse o controlador de
todos estes sectores de interesse, pois teria armas de gestão que lhes daria
muito maiores garantias de controlo da despesa do que aquilo que tem hoje. Mas
esses tempos já lá vão e hoje seriam completamente impossíveis.
Isto leva ao que se chama, o Sistema de Financiamento da
Saúde, que terá que ser coerente, pragmático e com regras fora do contexto
puramente político (embora claro está tudo é político), que é o que está a
acontecer na maior parte dos Países da EU. Não tenho duvidas que em Portugal,
grande parte do lobbies estão dentro da Administração Pública, pois esta foi
sempre usada como meio de combate por todas as forças políticas para ganhar
eleições, ao mesmo tempo abençoados por filosofias de carácter social
convenientes em função dos tempos. O que interessaria era que não houvesse
reclamações, manifestações, notícias ou agitação que ponha em causa a rotina
diária da hierarquia do poder (Secretário de Estado, ARS, Sub-Regiões , ACES e
Representantes locais como Municípios, Freguesias e fundamentalmente
Representantes locais dos partidos do poder ). Essa corja nunca entendeu, que
alguém teria de pagar as ideias avançadas de gestão ruinosa de acordo com estes
interesses, não só individuais como de grupos. O interesse de uns poucos, pagos
por todos, camuflados de humanismo e preocupação com os mais desfavorecidos.
Apenas como exemplo, e numa zona que conheço bem, vejamos o
que foi feito nos últimos anos, numa análise apenas dos factos. Como grande
parte dos leitores deve saber, eu nunca fui director de nada, candidato a nada,
inscrito em qualquer partido ou com interesses privados , pois trabalhei sempre
em regime de exclusividade. Sou apenas um trabalhador da saúde como sempre fui.
Até 1995. O C S Vouzela esteve instalado, tal como os outros
nos Concelhos vizinhos, em antigos Hospitais da Misericórdia ( O C.S S.P.Sul ainda tem este privilégio, embora já
se veja o novo, a andar para a frente ).
É público que o aluguer pago pelo edifício do C S Vouzela, extremamente
degradado, rondava os 800 contos por
mês, uma autêntica fortuna para a época. Ou por isso ou porque veio dinheiro
fresco da CEE, criou-se com todo o
merecimento, o actual C. Saúde na altura orçamentado em 400-500 mil contos.
Este edifício com dois pisos funcionais, é um dos C. de Saúde mais amplos, mais bem construídos e com
melhores condições que eu conheço a nível Nacional e equipado na altura com o
que de melhor estava preconizado.
Tinha 4 módulos, e estava estudado para 24.000 pessoas ( 4 x
6000 por cada módulo ). Tudo bem. Só que a população da Vila de Vouzela é de
perto de 1500 pessoas e do Concelho
10562. Porém, ainda existiam como existem
4 Extensões de Saúde onde os
utentes frequentam consultas ( equivalente em população a metade do Concelho ),
pelo que aquela grandiosa obra estava a ser usada, e ainda está, por 4 médicos e aproximadamente 5500 utentes. Falta o Delegado de Saúde com a
sua sobrecarregada agenda. Não era politicamente correcto fechar Extensões,
pois mesmo com esta obra realizada, era sempre muito incomodo retirar o médico
das Extensões, onde a maior parte das vezes não havia condições de trabalho ou
qualquer apoio de enfermagem.
O novo C. de Saúde era equipado com RX , máquina de Análises Clínicas, gabinete de
audiometria convenientemente forrado,
gabinete de fisioterapia com algum equipamento base e gabinete de dentista.
Tudo como manda a sapatilha….
O RX esteve anos sem funcionar, e só nos últimos anos
tivemos o privilégio de ser lá colocada uma técnica, que dava apoio ao SAP da
altura e que ainda hoje lá se encontra para fazer uma média de 4-5 RX/ dia.
Temos uma técnica praticamente a tempo inteiro para tão árduo serviço.
A Máquina de Analises clínicas funcionou 1 mês, pois logo se
viu que era incomportável nos gastos dos acessórios para se fazerem as
respectivas análises. Pouco tempo depois foram lá buscá-lo e eu duvido muito
que o tenham colocado utilizável em qualquer parte. Jaz em qualquer canto cheio
de ferrugem e teias de aranha, possivelmente.
O gabinete de audiometria esteve acompanhado durante anos
com uma boa poltrona, uma mesa modesta onde assentava a máquina dos
audiogramas, até que por abandono total ou por ordem superior, foi recolhida. Duvido
que se tenham feito mais de uma dúzia de audiogramas! A sala ainda lá está com
funções diversas. O Gabinete de Fisioterapia também esteve anos completamente
parado, e só há alguns anos funciona bastante limitado, com um técnico que lá
foi colococado,fazendo actualmente o seu melhor. O mesmo aconteceu com o
dentista. Anos sem lá aparecer ninguém, mas devido a um esperado contrato
tivemos finalmente dentista durante uns tempos. Mas, há 3-4 anos que o gabinete
está solitário, sem o ambiente doutros tempos, mas com a respectiva cadeira…sem
dentista. Agora usa-se o cheque dentista nos consultórios particulares,
possivelmente fica mais barato. O gabinete deverá ter o mesmo destino do
aparelho de audiometria. A cadeira que se ponha a pau…
Todos os utentes tinham médico de família, e apesar disso
havia SAP 24 H, onde a substituição das férias, fins de semana e feriados eram
pagos com horas extraordinárias aos médicos, com direito a folga conforme a
lei, e com dispensa no dia seguinte à enfermagem e pessoal auxiliar. Numa zona
que contemplava os C Saúde de Oliveira de Frades, Vouzela, S Pedro do Sul e Castro
Daire, que equivalia a uma população de aproximadamente 55.000 pessoas, haviam 3 SAP abertos 24 horas e 1
aberto 12 Horas. Isto para a dita população que cumulativamente todos
tinham médicos de família, em alguns casos muito longe do limite legal de
utentes. ( Não deve haver no mundo tamanha taxa de atendimento ). Vejam que
Viseu tem 95.000 residentes e nunca teve nenhum C. Saúde aberto 24 horas.
Diziam que era por o Hospital estar aberto. Mas ao mesmo tempo queixavam-se que
as pessoas só deveriam ir ao Hospital se fosse muito urgente! Ou seja, se me
doesse um dente às 2 da manhã teria e tenho que ir ao Hospital!!
Numa campanha eleitoral, um Secretário de Estado, em visita
à Extensão de Cambra ( que dista 5 Km da Sede que eu atrás referi, e que tem
uma população residente de 1300 pessoas ), e não contente com o que viu, resolveu abrir os cordões à bolsa e construir
um outro edifício de raiz para renovação
da respectiva Extensão de Saúde, que hoje está praticamente às moscas, só sendo
utilizada a tempo parcial por um médico, com enfermagem uma vez por semana. Com
a abertura para breve da Unidade de Saúde Familiar em Vouzela, ou com o
possível encerramento pelo Governo de Extensões com número abaixo dos 1500-1700
utentes, lá vai ficar mais uma obra para ser reconvertida.
Já no tempo do Ministro Correia de Campos, tomaram uma Douta
decisão. Passam o SAP ( Hoje SUB ) para S Pedro do Sul, onde gastaram quase
meio milhão de euros em transformar uma casa velha em remediável, com
atendimento dito de Urgência com 2 médicos, 2 enfermeiros e restante pessoal
por 24 horas/dia.( isto com instalações novas em Vouzela onde não era preciso praticamente gastar
dinheiro ). Colocaram ambulância do INEM em Vouzela toda a noite com 2 técnicos.
Como não bastasse, instalaram o ACES no piso térreo do C.S. Vouzela. ( deram
essa honra à terra como foi dito ..) Como se tratava dum organismo de vital
importância para a Saúde (?), diria mesmo indispensável, mereciam instalações
condizentes e então mais obras para acolher tão digno organismo que com o
respectivo equipamento, deixaram o piso como novo. Vai daí e como o calor
aperta, vários aparelhos de ar condicionado foram instalados , pois a malta
trabalha melhor pela fresquinha . Contudo, passado quase um ano repararam que
no piso de cima, onde os utentes eram atendidos, não existia qualquer unidade
de ar condicionado, o que poderia ser incomodo caso algum jornalista mais
ousado fosse tirar uma foto aquela paisagem . Uma fila de várias unidades em
baixo e nada lá para cima.! Num esforço “ meritório “ , foram então instaladas novas
unidades no piso de cima. Por minha parte o meu muito obrigado.
Fala-se que este ACES
vai ser encerrado brevemente !!
Estas realidades, embora locais, são uma amostra de como os
recursos que tivemos foram gastos. O mais curioso é que alguns destes
responsáveis estão a converter-se rapidamente nos defensores do nossos impostos
e da poupança. O que nos vale é que agora os bolsos estão mesmo vazios e já não
há crédito, e ainda bem.
Jonh Nash não deveria ter sido matemático, mas possivelmente
astronauta. Aproveitava e levaria muito desta gente para o espaço, pois era lá
que deveriam estar.