Pinturas de Armanda Passos, minha pintora preferida.


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

NOITE


Eu vivo
nos  bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.

São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.

Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.

Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.
Também a noite é escura.

PRATO DA VIDA


  Ingredientes:  Carinho, felicidade, amor, fraternidade, lembrança, jasmim, paixão, esperança





No prato da vida, vivida
Na esperança da fraternidade eterna,
Pus a levedar a seiva materna
Nesta época ressurgida
Com uma pitada de sal,
Pois estamos no Natal!

Polvilho com paixão esclarecida
Duma criança em busca de esperança.
Aqueço o forno em nome duma lembrança
Da felicidade da minha infância reaparecida,
Pois hoje é o dia da abastança
Que à tristeza e dor trouxe temperança!

Já sinto o cheiro do festim
Pois está na hora da partilha do amor.
Recheio de carinho, e para afinar seu odor
Enfeito com duas flores de jasmim.
À mesa do sonho irá ser servido
Grande parte deste meu prato preferido.


Ode à Paz


Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!

Nash, J


É possível provar matematicamente que o interesse de todos nós por vezes não é compatível com o interesse individual de cada um. Esta prova, matemática, foi suficiente para dar um Prémio Nobel em 1994 a um matemático ( J. Nash ), ainda por cima numa fase da sua vida que sofria de esquizofrenia, como se pôde ver ainda há pouco tempo num filme que andou a rodar em várias salas e até na TV, ‘ Uma Mente Brilhante ‘. Este princípio, o do Equilibrio,  é ainda muito aplicado hoje em dia  na gestão moderna em que os défices estão à frente do nariz, e o calote não se compadece com benesses sociais para ganho de eleições ou interesses de lobbies. 
 O Equilibrio de Nash  representa uma situação em que, em um jogo envolvendo dois ou mais jogadores, nenhum jogador tem a ganhar mudando sua estratégia unilateralmente. Para melhor compreender esta definição, suponha que há um jogo  com n participantes. No decorrer deste jogo , cada um dos n participantes seleciona sua estratégia ótima, ou seja, aquela que lhe traz o maior benefício. Então, se cada jogador chegar à conclusão que ele não tem como melhorar sua estratégia dadas as estratégias escolhidas pelos seus n-1 adversários (estratégias dos adversários não podem ser alteradas), então as estratégias escolhidas pelos participantes deste jogo definem um "equilíbrio de Nash".

Só que rapidamente a memória é curta e o que hoje parece lógico e aceitável, ontem seria praticamente crime. Tudo isto no nosso País, teve e tem a meu ver a sua expressão máxima nos gastos do País em Saúde desde há alguns anos a esta parte.

Claro que a Saúde é uma coisa muito vasta, e uma das grandes áreas económicas do mundo. Em Portugal representa 16% da riqueza do País, um dos maiores negócios a nível nacional ( 12% do PIB ). Por outro lado o controlo deste negócio é cheio de ambiguidades, pois há vários interesses em causa ( das farmácias, da industria, dos prestadores, das seguradoras, dos próprios dirigentes de cada altura, dos políticos, e dos paus mandados dos políticos em áreas que não estão de todo preparados). Tudo seria mais fácil se tudo dependesse dum só organismo, o que hoje é praticamente impossível acontecer nesta nossa economia de mercado ou seja se o Estado fosse o controlador de todos estes sectores de interesse, pois teria armas de gestão que lhes daria muito maiores garantias de controlo da despesa do que aquilo que tem hoje. Mas esses tempos já lá vão e hoje seriam completamente impossíveis.

Isto leva ao que se chama, o Sistema de Financiamento da Saúde, que terá que ser coerente, pragmático e com regras fora do contexto puramente político (embora claro está tudo é político), que é o que está a acontecer na maior parte dos Países da EU. Não tenho duvidas que em Portugal, grande parte do lobbies estão dentro da Administração Pública, pois esta foi sempre usada como meio de combate por todas as forças políticas para ganhar eleições, ao mesmo tempo abençoados por filosofias de carácter social convenientes em função dos tempos. O que interessaria era que não houvesse reclamações, manifestações, notícias ou agitação que ponha em causa a rotina diária da hierarquia do poder (Secretário de Estado, ARS, Sub-Regiões , ACES e Representantes locais como Municípios, Freguesias e fundamentalmente Representantes locais dos partidos do poder ). Essa corja nunca entendeu, que alguém teria de pagar as ideias avançadas de gestão ruinosa de acordo com estes interesses, não só individuais como de grupos. O interesse de uns poucos, pagos por todos, camuflados de humanismo e preocupação com os mais desfavorecidos.

Apenas como exemplo, e numa zona que conheço bem, vejamos o que foi feito nos últimos anos, numa análise apenas dos factos. Como grande parte dos leitores deve saber, eu nunca fui director de nada, candidato a nada, inscrito em qualquer partido ou com interesses privados , pois trabalhei sempre em regime de exclusividade. Sou apenas um trabalhador da saúde como sempre fui.

Até 1995. O C S Vouzela esteve instalado, tal como os outros nos Concelhos vizinhos, em antigos Hospitais da Misericórdia ( O C.S  S.P.Sul ainda tem este privilégio, embora já se veja o novo,  a andar para a frente ). É público que o aluguer pago pelo edifício do C S Vouzela, extremamente degradado,  rondava os 800 contos por mês, uma autêntica fortuna para a época. Ou por isso ou porque veio dinheiro fresco da CEE, criou-se  com todo o merecimento, o actual C. Saúde na altura orçamentado em 400-500 mil contos. Este edifício com dois pisos funcionais, é um dos C. de Saúde  mais amplos, mais bem construídos e com melhores condições que eu conheço a nível Nacional e equipado na altura com o que de melhor estava preconizado.

Tinha 4 módulos, e estava estudado para 24.000 pessoas ( 4 x 6000 por cada módulo ). Tudo bem. Só que a população da Vila de Vouzela é de perto de 1500  pessoas e do Concelho 10562. Porém, ainda existiam como existem  4  Extensões de Saúde onde os utentes frequentam consultas ( equivalente em população a metade do Concelho ), pelo que aquela grandiosa obra estava a ser usada, e ainda está,  por 4 médicos e aproximadamente  5500  utentes. Falta o Delegado de Saúde com a sua sobrecarregada agenda. Não era politicamente correcto fechar Extensões, pois mesmo com esta obra realizada, era sempre muito incomodo retirar o médico das Extensões, onde a maior parte das vezes não havia condições de trabalho ou qualquer apoio de enfermagem.
O novo C. de Saúde era equipado com  RX , máquina de Análises Clínicas, gabinete de audiometria  convenientemente forrado, gabinete de fisioterapia com algum equipamento base e gabinete de dentista. Tudo como manda a sapatilha….

O RX esteve anos sem funcionar, e só nos últimos anos tivemos o privilégio de ser lá colocada uma técnica, que dava apoio ao SAP da altura e que ainda hoje lá se encontra para fazer uma média de 4-5 RX/ dia. Temos uma técnica praticamente a tempo inteiro para tão árduo serviço.
A Máquina de Analises clínicas funcionou 1 mês, pois logo se viu que era incomportável nos gastos dos acessórios para se fazerem as respectivas análises. Pouco tempo depois foram lá buscá-lo e eu duvido muito que o tenham colocado utilizável em qualquer parte. Jaz em qualquer canto cheio de ferrugem e teias de aranha, possivelmente.
O gabinete de audiometria esteve acompanhado durante anos com uma boa poltrona, uma mesa modesta onde assentava a máquina dos audiogramas, até que por abandono total ou por ordem superior, foi recolhida. Duvido que se tenham feito mais de uma dúzia de audiogramas! A sala ainda lá está com funções diversas. O Gabinete de Fisioterapia também esteve anos completamente parado, e só há alguns anos funciona bastante limitado, com um técnico que lá foi colococado,fazendo actualmente o seu melhor. O mesmo aconteceu com o dentista. Anos sem lá aparecer ninguém, mas devido a um esperado contrato tivemos finalmente dentista durante uns tempos. Mas, há 3-4 anos que o gabinete está solitário, sem o ambiente doutros tempos, mas com a respectiva cadeira…sem dentista. Agora usa-se o cheque dentista nos consultórios particulares, possivelmente fica mais barato. O gabinete deverá ter o mesmo destino do aparelho de audiometria. A cadeira que se ponha a pau…

Todos os utentes tinham médico de família, e apesar disso havia SAP 24 H, onde a substituição das férias, fins de semana e feriados eram pagos com horas extraordinárias aos médicos, com direito a folga conforme a lei, e com dispensa no dia seguinte à enfermagem e pessoal auxiliar. Numa zona que contemplava os C Saúde de Oliveira de Frades, Vouzela, S Pedro do Sul e Castro Daire, que equivalia a uma população de aproximadamente  55.000  pessoas, haviam 3 SAP abertos 24 horas e 1 aberto 12 Horas. Isto para a dita população que cumulativamente todos tinham médicos de família, em alguns casos muito longe do limite legal de utentes. ( Não deve haver no mundo tamanha taxa de atendimento ). Vejam que Viseu tem 95.000  residentes  e nunca teve nenhum C. Saúde aberto 24 horas. Diziam que era por o Hospital estar aberto. Mas ao mesmo tempo queixavam-se que as pessoas só deveriam ir ao Hospital se fosse muito urgente! Ou seja, se me doesse um dente às 2 da manhã teria e tenho que ir ao Hospital!!

Numa campanha eleitoral, um Secretário de Estado, em visita à Extensão de Cambra ( que dista 5 Km da Sede que eu atrás referi, e que tem uma população residente de 1300 pessoas ), e não contente com o que viu,  resolveu abrir os cordões à bolsa e construir um  outro edifício de raiz para renovação da respectiva Extensão de Saúde, que hoje está praticamente às moscas, só sendo utilizada a tempo parcial por um médico, com enfermagem uma vez por semana. Com a abertura para breve da Unidade de Saúde Familiar em Vouzela, ou com o possível encerramento pelo Governo de Extensões com número abaixo dos 1500-1700 utentes, lá vai ficar mais uma obra para ser reconvertida.

Já no tempo do Ministro Correia de Campos, tomaram uma Douta decisão. Passam o SAP ( Hoje SUB ) para S Pedro do Sul, onde gastaram quase meio milhão de euros em transformar uma casa velha em remediável, com atendimento dito de Urgência com 2 médicos, 2 enfermeiros e restante pessoal por 24 horas/dia.( isto com instalações novas em Vouzela  onde não era preciso praticamente gastar dinheiro ). Colocaram ambulância do INEM em Vouzela toda a noite com 2 técnicos. Como não bastasse, instalaram o ACES no piso térreo do C.S. Vouzela. ( deram essa honra à terra como foi dito ..) Como se tratava dum organismo de vital importância para a Saúde (?), diria mesmo indispensável, mereciam instalações condizentes e então mais obras para acolher tão digno organismo que com o respectivo equipamento, deixaram o piso como novo. Vai daí e como o calor aperta, vários aparelhos de ar condicionado foram instalados , pois a malta trabalha melhor pela fresquinha . Contudo, passado quase um ano repararam que no piso de cima, onde os utentes eram atendidos, não existia qualquer unidade de ar condicionado, o que poderia ser incomodo caso algum jornalista mais ousado fosse tirar uma foto aquela paisagem . Uma fila de várias unidades em baixo e nada lá para cima.! Num esforço “ meritório “ , foram então instaladas novas unidades no piso de cima. Por minha parte o meu muito obrigado.

Fala-se que este  ACES vai ser encerrado brevemente !!

Estas realidades, embora locais, são uma amostra de como os recursos que tivemos foram gastos. O mais curioso é que alguns destes responsáveis estão a converter-se rapidamente nos defensores do nossos impostos e da poupança. O que nos vale é que agora os bolsos estão mesmo vazios e já não há crédito, e ainda bem.
Jonh Nash não deveria ter sido matemático, mas possivelmente astronauta. Aproveitava e levaria muito desta gente para o espaço, pois era lá que deveriam estar.