Pinturas de Armanda Passos, minha pintora preferida.


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

IMAGENS

Há poucos dias ouvi uma discussão impressionante, ou talvez não, mas que pessoalmente me marcou e até me assustou. Não fiquem intrigados pois vou já dizer o que foi. Estava a ouvir a TSF, um programa chamado Pensamento Cruzado, que junta um Psiquiatra e uma Psicóloga a falar sobre variados temas de 5 minutos, nem tanto.
Fiquei a saber, que a indústria de implantes mamários está em plena actividade e performance, o que não me admirou. Contudo, quando se trata de jovens adolescentes e na vizinha Espanha, parece que uma em cada duas adolescentes, faz cirurgia de implante nesta idade, tornando-se a coisa mais natural do mundo, inclusive a nível de marketing, sendo frequente nas grandes cidades pinturas em autocarros e cartazes estimulando este procedimento.

Clínicas existem, que para “ atenuar “ algum mau estar que isto possa causar, fornece gratuitamente acompanhamento psicológico a quem necessitar, para que não se possa dizer que o acto em si é puramente pragmático.

No mínimo e atendendo a estas idades, poderemos concluir que há claramente uma cultura de imagem em plena concorrência com uma construção incompleta da identidade própria de cada indivíduo, que leva a uma espécie de adição sistemática de incompatibilidade entre a aceitação daquilo que somos e aquilo que de momento queremos ser, ainda por cima num corpo ainda em transformação. Possivelmente todo este mecanismo não parará ao longo duma vida, pois dum real conflito entre a própria pessoa e a sua imagem se trata, servirá sempre para atenuar conflitos próprios, ou ainda pior, para tentativa de resolução externa de algo previamente sonhado.

Para terminar, o acompanhamento Psicológico não existe para todo o tipo de situação, pelo que apenas se trata de desculpabilizar uma situação tida à partida como perfeitamente natural. O corpo não é uma escultura do pensamento, mas um cofre que o encerra e alimenta.

Bom mês para todos.

SONETO ANTICLERICAL

Se quereis, bom Monarca, ter soldados
Para compor lustrosos regimentos,
Mandai desentulhar esses conventos
Em favor da preguiça edificados:

Nos Bernardos lambões, e asselvajados
Achareis mil guerreiros corpulentos;
Nos Vicentes, nos Neris, e nos Bentos
Outros tantos, não menos esforçados:

Tudo extingui, senhor: fiquem somente
Os Franciscanos, Loios, e Torneiros,
Do Centimano aspérrima semente:

Existam estes lobos carniceiros,
Para não arruinar inteiramente
Putas, pívias, cações, e alcoviteiros.

O HOMEM BIOLÓGICO

Muitas vezes me pergunto
Porque o céu é tão distante
A lua tão fascinante
O sol tão brilhante?
Mas o palco é variante
No teatro radiante
Deste mundo desconcertante

Quem nos dá o libreto da vida ?
Quem nos transforma em actores?
Quem nos acorrenta às cenas e horrores
E aos constantes despudores
Deste quotidiano mecanizado
Desumanizado !
Massificado !

Vive-se na mediocridade dos actos
Da montagem de artefactos.
Esquece-se a vida
Que se torna pervertida.
Ouvem-se os latidos
Dos que são banidos
Por todos os lados.

Falam-me de liberdade
Tentaram a revolução
Existe a religião.
Mas o homem segue sua evolução
Com augúrios de excepção
Lembrando a extinta escravidão
Que parece lhe deixou saudade!

Como pode acontecer
Nascer e morrer sem conhecer
A cultura do presente e do passado!
Morrer sem saber
Quem é Bach ou Da Vinci
Dali ou Picasso, o Prado ou o Louvre?
Ir a enterrar sem ver o mar
Nem sequer o imaginar
Sem sequer o abraçar!!

Isso será certamente morrer sem ter nascido
Acordar sem ter adormecido
Desaparecer sem ter surgido.
Será o homem biológico
O transformador poluente
Que a vida consente.