Pinturas de Armanda Passos, minha pintora preferida.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Tenho Tanto Sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

A MÁQUINA

A máquina vai laborando
Triturando alegria e esperança.
Mas em sua andança
Eu me vou lembrando
Que não tem parança!

Energia inacabada
Fonte inimaginável de sonhar
Que em seu trotear
O próprio sonho devora
Parecendo com isso gozar!!!

Máquina infernal e de contradições
Implacável, sem nunca descançar!!
Por vezes para nos fazer entusiasmar
Improvisa variações
Dando a sensação de querer mudar.

Logo o fogo nos consome
Logo ela nos segura.
E na sua amargura
Parece até estar a iniciar
Para nunca mais acabar!!!

Recuso meu destino atroz
Nessa máquina implacável.
E ao abanar o que é estável
Estou saindo veloz
Em busca do imaginável!!

Mas quando do acerto final
O prato da balança decidirá
Se a ideia foi boa ou má!
Mas nunca serei o material
Que a máquina triturará!!!!!

POLÍTICA DO TANTO-MELHOR ,TANTO-PIOR

O médico Tanto-Pior ia ver um doente, que o seu confrade Tanto-Melhor igualmente visitava. O primeiro, sempre funesto, afirmava que o doente morreria dentro de pouco tempo; O segundo, que escaparia.
Entretanto o doente morreu, e ambos se vangloriavam de ter razão. O Tanto-Pior, porque sempre soubera que o doente morreria. O Tanto-Melhor, porque, se morrera, fora por não ter tomado os medicamentos que ele receitara.
Vem-me à cabeça que ao longo da nossa democracia, se assim lhe podemos chamar, a alternancia entre os dois maiores partidos tem sido uma realidade. Porém, e após o trabalho ao longo destes anos, verificamos que os resultados estão à vista e mesmo assim, os dois continuam donos da razão, não trazendo qualquer esperança aos eleitores de que esta alternancia habitual e funeste, traga o que todos nós sempre desejamos. Tal como na história, o cidadão está condenado a morrer por culpa própria!!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Responsabilidade Civil e Criminal

A responsabilidade dos políticos rege-se apenas do ponto de vista criminal ou também do ponto de vista civil? Eis uma questão tremendamente importante. Para alguns, e apontando a Constituição, os políticos apenas podem ser julgados do ponto de vista criminal, uma vez que o seu verdadeiro julgamento estaria sempre nas próximas eleições. Quem não gostasse ou aceitasse o seu trabalho votaria contra. Outros , como aconteceu recentemente na Islândia, pensam que nas sua decisões existe intrinsecamente responsabilidade civil para além da criminal, como acontece a qualquer outro funcionário público. Se um médico ou enfermeiro ou advogado ou qualquer outro trabalhador nas sua funções públicas tomar alguma atitude que lese o Estado, é responsabilizado com processo disciplinar e sujeito às penas constantes da lei. Não é justo nem responsável que alguém, eleito ou não, tome decisões ao seu arbítrio e posteriormente saia por uma porta ainda mais larga, olhando para trás deixando a pasta encima da mesa. Como podemos ter Ministros das Finanças, todos eles Professores Universitários nas melhores Escolas do País, alguns de mérito reconhecido no estrangeiro, que foram responsáveis pela situação que o País agora se encontra? Não sabiam eles o que estavam a fazer? Das reais consequências da não tomada atempada de medidas? Então porque não as tomaram? Por incompetência? Não, claro que não. Por frete político da altura! Vem-me à memória aqui há uns anos, em Évora, na Unidade de Diálise a morte de alguns doentes por deficiência dos filtros dos aparelhos de diálise que permitiram que o excesso de alumínio fosse letal para esses doentes. O médico responsável pela Unidade, nessa altura conivente com a Administração que não estava virada para o gasto atempado da despesa adequada ao problema, embora pessoa competente e experiente, foi condenado em Tribunal por má prática e com responsabilidade na morte involuntária dos ditos utentes! E muito bem! Foi conivente e pagou por isso. Na política é-se conivente e quando se sai ainda se arranja um emprego melhor! Por isto, deviam efectivamente ter de prestar contas quando alguém de direito em representação do povo, os confrontasse. Como não têm que dar contas a ninguém nem estão nisso interessados, acabamos todos com o FMI à porta, estes sim nem precisando de saber de quem foi na realidade a responsabilidade, querendo apenas saber a forma como se paga!

Margarida

Com nove letras maravilha
Contemplo a exaltação do poeta.
Colocou-as lá sem cedilha,
Transformou-as na flor predilecta.
O nome de minha filha !

O meu jardim é na verdade
O renegar da saudade.
Ditosa flor !
Que com seu perfume e amor
Me faz procurar a eternidade.

Mas esta flor não é vulgar
Nessas estradas e caminhos
Pois chora, brinca e ri ;
E a saltitar,
Por entre giestas e azevinhos
Parece mesmo enfeitiçar
Reivindicando de pronto seus carinhos!

Minha flor é permanentemente florida
De súbito glorificada
Profundamente amada
No meu horto contemplada.
Curtida!
Lembrada.

Que o tempo sempre a conserve
Ditosa e sempre bela.
Branca e amarela!
E que Deus a preserve
Neste jardim de todos nós.
Para vós!


Exsutate jubilate
Evasão do tempo ao madrugar
Por tuas pétalas poder tratar.
Adorar
E sempre te contemplar.

E por vezes as noites duram meses

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

sábado, 2 de outubro de 2010

PATER

Chamaste-me e eu surgi
Cuidas-te de mim e eu sorri
Brincaste, e eu fui feliz
Hoje sei
Que valeu a pena fazer o que já fiz.

Quem eras tu afinal
Que me pertencias e me adoravas ?
E com teu jeito rabugento
Com sorrisos e palavras
Falavas comigo e me amavas !?

Caminhante do destino
Doravante lembrado
Dos teus carinhos fui forjado
Dos teus sorrisos despido
Pelo teu corpo abandonado !

Memória é a tua frescura sobrante
E como num retrato gravado
Aí estarás sempre a meu lado
Mutante.
Do corpo para o espírito resultante.

Não deixarás de ser amigo
E ficarás a meu lado.
Mas teu filho já crescido
Ficará para sempre marcado
Por te amar, sem poder ser amado.

Que teu espírito carinhoso
Encontre o lugar da eterna liberdade .
E aí me aguarda com saudade
Pois à morte pertence o mais ditoso,
Que à vida veio buscar mais santidade.

ALMA PERDIDA

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma de gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguem que quiz amar e nunca amou!

Toda a noite choraste..e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguem é mais triste do qu nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que eras a minh´alma
Que chorasse perdida em tua voz!...

A CRISE

Não exibas tanto o esplendor dos teus dentes. Eu
sei que são postiços. Mas há quem não sabe, dizes.
Pois. Mas ainda que eu não soubesse, sabia-lo tu.
Fecha a boca.

Virgilio Ferreira




O CACHORRO

Foi-nos comunicado com ar contido e fumegante que afinal isto está uma merda.
Todos agora terão que chafurdar nela, para evitar a dita..ainda mais dura.
Já cheirava mal, mas há quem tenha o nariz entupido durante meses...
E quando o desintupiu, verificou que afinal cheirava mesmo mal.
Mas à boa maneira Portuguesa, os outros que limpem, que eu só agora cheguei.
Para quê a preocupação? Agora voces pegam no esfregão, raspam, secam e o aspecto fica outro! Pelo menos por agora acabou ! Eu tenho mais que fazer!!!
Onde está o problema? O que é preciso é que tudo regresse à normalidade.
Afinal quem foi o porcalhão? Eu não, pois até tinha o olfacto alterado! Eu só passei por lá e dei conta que aquilo já estava assim. Não parecia , mas estava! A culpa foi do cachorro que veio de fora e não sabia que não podia fazer aquilo naquele lugar!

sábado, 4 de setembro de 2010

Ainda a Casa Pia

A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

Chico Buarque


Sem querer emitir juizos de valor, uma conclusão é preciso! Acreditar na Justiça, que tão doente tem andado nos tempos que acontecem! Ainda fala esta gente da Saúde ou mesmo da Educação! Este crer implica que todos os envolvidos tenham o oportunidade de se defender, mesmo quando tudo parece ser o que é. Justiça não é o sentido pratico da vida mas sim a sua substancia; O tempo da Justiça popular já lá vai,embora hoje possua armas bem mais eficazes do que antigamente! Todos devemos confiar nas Instituições! Todos temos que esperar que a obra se realize e então sim, acreditar! É só do mistério que se tem medo. É necessário que não haja mais mistério ( Saint-Exupéry )

MORS-AMOR

Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,
.
Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?
.
Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,
.
Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: "Eu sou a Morte!"
Responde o cavaleiro: "Eu sou o Amor!"

VIVENDO

Contemplando e por vezes sonhando
Ia a Vida passeando
Através dos domínios terrenos.
Recordando,
Pensando.

Donde vens tão apressada
Oh Morte ?
Que da tua sorte
Eu não perduro nem alimento,
Afugento.

- Trágico destino o teu
Oh Vida !
Que por mais que te afastes
Mais perto de mim te encontras
Pra contas!

- Estou então prisioneira
Por ti encarcerada,
Procurando a felicidade
Mesmo o destino sabendo,
Morrendo!

Busca vã , mas aterradora
Nas entranhas do que é belo.
Para que te possa enfrentar
Nesse duelo, vencendo
Vivendo…

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Os Amigos

Amigos, cento e dez, ou talvez mais,
Eu já contei. Vaidades que eu sentia:
Supus que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais!

Amigos, cento e dez! Tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia
Que, já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.

Um dia adoeci profundamente. Ceguei.
Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quasi rotos.

Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego não nos pode ver.
- Que cento e nove impávidos marotos!

Nostalgia

Andava uma andorinha a voar
Com seu ar liberto e ofegante.
Inquietante
Na paz transparecida,
Quase até provocante!

Cá em baixo, meditando…
Acompanhava seu trajecto esvoaçante
Com ciúme delirante,
Do seu caminho aliciante.
Observando….

Reparei que me olhava
E fiquei envergonhado,
Passado!
Por ter sido o escolhido,
Por ter sido o contemplado!

Levantei-me de pronto
Espantado!
Sempre observado,
Por aquele animal enfeitiçado
Tonto.

E após um sorriso,
Após um momento
Falou-me do seu sentimento,
Por vezes incompreendido
Esquecido!

Assim contaria seu segredo
De seu voo sem tecto
Bonito e pleno de afecto,
Fantástico !
Irrequieto.

Dançava um Concerto de Bach
Nesse dia de Primavera fria
Brincando
Voando
Cheia de Nostalgia…