Pinturas de Armanda Passos, minha pintora preferida.


sexta-feira, 4 de maio de 2012

GRITO DE DESESPERO



Há em nós humanos um sentimento intrínseco de justiça, que é fundamental para o nosso equilíbrio como pessoas e cidadãos. Sem ele  , seria muito difícil haver uma relação estável e valeria certamente a lei do mais forte. Quando  este valor falta, existe um tornado de revolta, um saber consciente de que as coisas não estão bem. Foi isto que acompanhou alguma das gerações passadas, que sofreram na pele duma forma incompreensível , o terror de outros seres humanos , qual retrocesso medieval da nossa evolução.

 Numa das crónicas passadas já tive oportunidade de falar de alguns  genocídios conhecidos dos últimos anos. ( Vide  Mês de Junho/11  , com o título  “ O Aprendiz de Carniceiro ). Mas aquilo que julgamos completamente fora de hipótese nos dias de hoje, foi realidade há muito poucos anos no Camboja, na Bósnia, no Holocausto Ucraniano ou no Ruanda.

Quando a balança da justiça fica encravada para um lado, a contemplação desta realidade nem sempre origina uma reacção de resposta imediata, pois o mais fraco deixa de poder contar com aquilo que mais o defende – os seus direitos. Passa a vigorar o poder do opressor, a escravização imperialista, muitas vezes abençoada com subidas ao poder de pessoas e ideias que hoje julgamos completamente fora da realidade. Mas o que é certo, é que elas aí estiveram  e os seus ideais continuam presentes.

É curioso, no crime de há uns meses na Noruega, o seu autor era esclarecidamente contra o multiculturalismo e principalmente contra o Islamismo. Numa mente doentia ou numa personalidade predisposta, este modo de pensar pode acabar naquilo que todos nós assistimos e que escandalizou o mundo. Na opinião deste senhor Breivik, os governos e políticos deveriam ser castigados e responsabilizados por aquilo que ele chama o controle escancarado de  outras culturas nas nossas Sociedades,  onde esses malefícios estão à vista de toda a gente. Daí o pegar em armas para satisfazer tamanha obsessão de pensamento, muitas vezes desvirtuado por doutrinas e pensamentos enviesados cativantes de personalidades frágeis e compulsivas. O resultado esteve à vista, não na ordem dos milhares, pois ele não tinha sozinho condições para o fazer ( ao contrário de outros ), mas na ordem da centena.

Reparem que foi uma coisa semelhante que originou a Solução Final pelos Nazis ( era preciso limpar a Europa de indesejáveis de toda a espécie, para se construir um mundo realmente melhor, com uma raça dominante que desse garantias desta certeza ). Também foi uma coisa semelhante que fez com que Ratzo Mladic fizesse a limpeza étnica contra os Muçulmanos na Bósnia. Também não é apenas para chatear os Muçulmanos Franceses que o Governo deste País exigiu o cumprimento de determinadas normas, tendo proibido determinados costumes e comportamentos desta comunidade religiosa, que não deixam de ser tão Franceses como os outros. Havia que dizer abertamente a quem quisesse entender que em França os costumes e os valores são para ficar.

É assim neste contexto que temos de avaliar e pensar, os crimes cometidos contra famílias inteiras, extermínio de populações e até de grupos étnicos concretos como Judeus e Ciganos. Foi com este espírito que visitei muito recentemente o Museu do Campo de Extermínio de Auchwitz-Birkenau, na Polónia junto a Cracóvia.

Não vou estar aqui a contar o que se vê ou deixa de ver nessa visita, pois dum modo geral toda a gente sabe no que consta, com mais ou menos pormenor. O que mais me impressionou e interessou, foi o facto de no meio de tanta gente que diariamente visita o Campo, existir um silencio solidário, um reconhecimento comum da barbárie, um medo interior da natureza humana. Não vemos sinalética a reclamar silencio. Não é preciso. Ele coabita com o nosso pensamento e homenagem comuns. As pessoas estão lá para prestarem uma homenagem e não para alguns pormenores macabros. Cada um se coloca um pouco no lugar das vitimas, e se pergunta porquê tu e não eu?

É facil governar os Homens pelo terror, mas é difícil fazê-lo por muito tempo e impunemente. Na saída do Campo nº 1, mesmo ao lado esquerdo, atrás de onde costumava tocar a banda do Campo para alegrar os residentes e recém-chegados, fazendo imaginar um local tranquilo, existe um lugar que tem uma trave  do tipo baloiço, onde foi enforcado Rudolf Hoss, o primeiro comandante deste Campo de martírio. Confesso que o saber isto, não me aliviou coisa nenhuma daquilo que estava sentindo, antes me fez pensar o que se ganhou com tamanha violência. Se se costuma dizer que na Guerra não há vencedores nem vencidos, aquele lugar comprova-o duma maneira completamente perceptível. Aquele lugar é testemunha disso.

Saint- Exupery dizia que é muito misterioso o país das lágrimas. Apeteceu-me chorar. Porque sabes cantar, amigo, sabes chorar. Este Museu é um local de reflexão. É uma paragem no tempo. É sentir que o Inferno já passou por ali, ao nosso lado. É ouvir o clamor dos inocentes.É um grito de socorro sem ter ninguém que nos possa valer. É a lei do mais forte. É um espelho conspurcado da Natureza Humana. É a vergonha da nossa Civilização.

Já no final da visita em Birkenau (Campo 2 de Aushwitz ), existe um memorial que diz: Que este lugar seja para a humanidade um Grito de Desespero, foto que mostro em baixo. Está em várias línguas, daqueles países que tiveram mais vítimas. Que os nossos filhos aprendam com os erros dos seus avós.









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