Pinturas de Armanda Passos, minha pintora preferida.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

EMPREGO , GLOBALIZAÇÃO E NEO SINDICALISMO

A essência da vida
É andar para a frente,
Sem possibilidade de fazer ou intentar marcha a trás.
Na realidade,
A vida é uma rua de sentido único.

Agatha Christie


Globalização é um conjunto de transformações de ordem política, económica e social que estão a ocorrer no mundo nas últimas décadas. Está centralizada naquilo que os liberais chamam “ Aldeia Global “, onde os Países abandonam barreiras tarifárias e proteccionistas do seu mercado, abrindo-se ao comércio e capital internacionais. Todas estas alterações não são isoladas ou restritas mas consequentes, e por isso são acompanhadas por mudança nas tecnologias e na velocidade da informação, que estão ao alcance geral ou mais propriamente global, através da televisão, internet, telefone, computadores etc, fazendo haver uma homogeneização cultural entre os Países.
Claro que as consequências disto mesmo são as mudanças no modo de produção de bens e serviços com a instalação de fábricas e corporações em qualquer lugar do mundo, fazendo que os produtos não tenham apenas uma nacionalidade mas sejam essencialmente plurinacionais. Não será preciso dar exemplos pois eles são tantos que não caberiam neste artigo, mas não resisto a falar de toda a industria automóvel, Coca-Cola, Mcdonald´s , CNN, Zara, Axa , Exxon ou Apple.
Com a globalização, a temática principal das empresas passou a ser a competitividade. A rápida evolução nos modos de produção e os novos locais de produção obrigou as empresas a cortaram custos com o objectivo de terem bons preços no mercado, mas fundamentalmente não perderem a dita competitividade face à concorrência global. Como tal, representando as despesas com o emprego um dos factores mais caros na produção, serão principalmente os trabalhadores as principais vitimas deste processo. Assim vários postos de trabalho estão a ser eliminados, gerando aquilo que os economistas chamam de “ desemprego estrutural”, gerado pela automação em substituição à mão de obra. A tecnologia provoca desemprego e assim é usada como arma face à concorrência entre empresas de bens e serviços. Embora novos postos de trabalho estejam a ser criados na área de serviços, com base na formação e ultra-especialização de trabalhadores, o que é um facto é que este novo mercado de trabalho dificilmente absorverá os excluídos do processo anterior.
São os casos que diariamente podemos constatar aqui num Pais pequeno como o nosso. A Brisa deixa de ter cobradores, o Continente muito menos operadoras de caixa, os Bancos menos gestores de conta, os aeroportos menos operadores mas mais check-ins electrónicos, empresas apenas com catálogos na internet, oficinas com diagnósticos electrónicos, fábricas com cada vez menos trabalhadores, farmácias com mais robots e menos farmacêuticos, atendimento telefónico com máquinas e não com gente.
Este artigo teve a sua génese numa notícia que foi transmitida por vários órgãos de comunicação social, em que referia que o grupo responsável pela montagem dos Iphones e Ipads da Apple na China, a FOXCONN, está a planear substituir os seus trabalhadores por Robots, querendo a empresa reduzir eventuais subidas dos custos laborais e utilizar 1 milhão de robots dentro de 3 anos. A companhia usa actualmente 10.000 robots ! O presidente a Foxconn pretende atribuir funções mais qualificadas aos trabalhadores e utilizar os robots nas linhas de produção simples. Segundo um analista da Reuters , “ o aumento dos custos salariais deve ser a principal razão para que a Foxconn tome esta atitude, uma vez que o aumento salarial deste ano foi bastante significativo. Se não fizerem isto terão que deslocar as suas fábricas para outros locais”, acrescentou.
Tudo isto dá-nos que pensar, pois de forma alguma os mercados irão absorver os milhões de licenciados e outros trabalhadores de todo o mundo, enquanto algumas regras efectivamente não mudarem.
Neste contexto aparecem o interesse dos trabalhadores, dos estudantes e daqueles que na prática são os seus interlocutores, ou sejam, os sindicatos e o sindicalismo.
Os Sindicatos tal como nos aparecem neste momento, morreram ou estão condenados a isso mesmo em pouco tempo, pois regra geral funcionam com regras desfasadas da actual realidade, ou seja da economia global. O neo-sindicalismo luta com dificuldades, pois existe muito descrédito dos trabalhadores para com estas organizações que dizem defendê-los, pois na prática são orientados por políticos ou outros desacreditados que lá estão para terem beneficio directo desse mesmo cargo, com base nas complacências que ainda vão tendo nos planos jurídicos de cada País. A democracia existe plena actividade de quem defenda os trabalhadores, e estes neste momento sentem-se completamente indefesos e desacreditados, sujeitando-se às leis do mercado, que os exploram duma forma mordaz e descarada, ou ainda pior os atiram para filas do desemprego enquanto algumas Seguranças Sociais tiverem capacidade de lhes dar alguma coisa.
O Neo-Sindicalismo tem que surgir com um novo modelo, com uma filosofia que se ajuste aos tempo modernos, que sejam credíveis para poderem ter legitimidade para defender os seus membros. Uma das soluções será terem interferência directa na elaboração de novas regras laborais, em que o emprego seja uma exigência concreta a nível global (por exemplo exigir que as empresas sejam obrigadas a ter determinada percentagem de trabalhadores em função dos seus lucros ou capitais sociais para a mesma actividade económica e a nível global). Para que tal aconteça, será preciso lutar duma forma também mais moderna (usando por exemplo toda actividade e fome de notícias dos media, inovando, fazendo exigências suprapartidárias, apresentando casos concretos de exploração e corrupção, denunciando o lucro a todo o custo). Também e porque não, com acções desesperadas de rua, atacando os núcleos mais irmanados do actual sistema, fazendo com que os governos os contemplem como um verdadeiro problema inadiável e sério. Caso contrário, mais ano mesmo ano, iremos ter uma nova Revolução, não Francesa mas quem sabe Europeia ou também global, pois a tradicional doutrina social do Velho Continente estará ela própria tão doente e incapaz, quanto as suas próprias políticas.

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