Pinturas de Armanda Passos, minha pintora preferida.


sexta-feira, 6 de maio de 2011

A CIGARRA E A FORMIGA

Tendo a cigarra em cantigas no inverno
Passado todo o verão
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.
Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brilho,
Algum grão com que manter-se
Até voltar o aceso estio.
- "Amiga", diz a cigarra,
- "Prometo, à fé d'animal,
Pagar-vos antes d'agosto
Os juros e o principal."
A formiga nunca empresta,
Nunca dá, por isso junta.
- "No verão em que lidavas?"
À pedinte ela pergunta.
Responde a outra: - "Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora."
- "Oh! bravo!", torna a formiga.
- "Cantavas? Pois dança agora!"

A propósito desta fábula atribuída a Esopo e recontada por La Fontaine, fez-me lembrar que por vezes há gente que não aprende. Isto não é forçosamente bater no ceguinho, mas apenas uma constatação. O 25 de Abril foi outro dia, e cá está novamente o FMI , que mesmo não ferrando na gente, obriga a subir impostos e a perda de regalias que tínhamos por certas. Ou seja, a devolver tudo aquilo que não poderíamos ter recebido. Tivemos mais sorte que a cigarra, pois nós ainda tivemos quem nos emprestasse!

Também a propósito de quem nos vai comandar em tão hercúlea tarefa, li e apreciei uma outra Fábula, do mesmo autor, que também passo a descrever.


Reunião Geral dos Ratos

Uma vez os ratos, que viviam com medo de um gato, resolveram fazer uma reunião para encontrar um jeito de acabar com aquele eterno transtorno. Muitos planos foram discutidos e abandonados. No fim um rato jovem levantou-se e deu a ideia de pendurar uma sineta no pescoço do gato; assim, sempre que o gato chegasse perto eles ouviriam a sineta e poderiam fugir correndo. Todo mundo bateu palmas: o problema estava resolvido. Vendo aquilo, um rato que tinha ficado o tempo todo calado levantou-se de seu canto. O rato falou que o plano era muito inteligente, que com toda certeza as preocupações deles tinham chegado ao fim. Só faltava uma coisa: quem ia pendurar a sineta no pescoço do gato?

Tal como na Fábula, falar é uma coisa, mas fazer é outra completamente diferente. Belos discursos, montando catedrais e fugindo da realidade, ou seja pendurando no povo a sineta da ilusão vai ter como consequência a bestialidade. Muitos de nós não lhes colocaríamos no pescoço a sineta, mas sim uma corda. Mas também como nas Fábulas, por vezes os gatos também têm sete vidas…

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